quarta-feira, agosto 09, 2006

Amostragem na Pesquisa Qualitativa

Guilherme Gonçalves de Carvalho

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado (MINAYO, 2001). O primeiro passo para realizar uma análise social é definir os sujeitos sociais que serão pesquisados, ou seja, definir a amostragem da pesquisa.
Para esta definição deve-se ter bastante cuidado, pois serão os entrevistados que guiarão os resultados da pesquisa. Ou seja, uma má escolha da amostra poderá prejudicar completamente o resultado obtido podendo, inclusive, apontar resultados incoerentes com a realidade.
A amostragem é realizada com base numa parte representativa da população da pesquisa. Uma amostra é considerada representativa quando ela apresenta as mesmas características gerais da população da qual foi extraída. Diversos são os fatores a serem levados em consideração no momento de definição da amostragem. Discutiremos a seguir alguns deles destacando suas respectivas importâncias.
Uma das características que mais diferenciam a pesquisa qualitativa da quantitativa em relação à amostragem é a quantidade de sujeitos sociais pesquisados. Este número não deve ser muito grande, mas deve ser suficientemente pequeno de forma a permitir que o pesquisador seja capaz de conhecer bem o objeto de estudo.
Minayo (1999), ao discutir sobre a questão da amostragem na pesquisa qualitativa, afirma que nesta há uma preocupação menor com a generalização. Na verdade há a necessidade de um maior aprofundamento e abrangência da compreensão. Então, para esta abordagem, o critério fundamental não é o quantitativo, mas sua possibilidade de incursão. Ou seja, é essencial que o pesquisador seja capaz de compreender o objeto de estudo.
Na verdade, o pesquisador deve ser capaz de identificar e analisar profundamente dados não-mensuráveis, como sentimentos, sensações, percepções, pensamentos, intenções, comportamentos passados, entendimento de razões, significados e motivações de um determinado grupo de indivíduos em relação a um problema específico.
Quanto à escolha do número de entrevistados, Minayo afirma que o critério de representatividade da amostragem na pesquisa qualitativa não é numérico como na pesquisa quantitativa. A quantidade de pessoas entrevistadas deve, no entanto, permitir que haja a reincidência de informações ou saturação dos dados, situação ocorrida quando nenhuma informação nova é acrescentada com a continuidade do processo de pesquisa. A continuação da pesquisa torna-se, portanto, pouco produtiva ou até mesmo inútil dependendo do período de insistência na continuidade.
Os sujeitos sociais devem ser pesquisados em número suficiente para permitir a reincidência de informações. Mas a grande dificuldade é saber o quão grande será esse número. Alguns pesquisadores afirmam que o melhor momento de definir é pesquisando. Isto é, o pesquisador saberá quando suas entrevistas ainda estão acrescentando informações a seu estudo.
Na pesquisa qualitativa, todas as pessoas que participam são reconhecidas como sujeitos que elaboram conhecimentos e produzem práticas adequadas para intervir nos problemas que identificam. Como sujeitos da pesquisa, além de identificar os problemas, analisam-nos, discriminam as necessidades prioritárias e propõem ações mais eficazes (CHIZZOTTI, 1991).
Logo, outro ponto importante para definição da amostragem é saber quais indivíduos sociais têm uma vinculação mais significativa para o problema investigado. Afinal, são as pessoas mais envolvidas no problema que normalmente serão mais relevantes para a pesquisa qualitativa.
Enquanto definindo quais serão os sujeitos sociais da pesquisa, é importante não se prender a um único grupo de pessoas exceto quando a pesquisa restringe-se a este pequeno grupo. Deve-se, portanto, procurar observar o objeto de estudo nas diversas ópticas possíveis.
Para Minayo, pode ser considerada uma amostra ideal aquela que reflete as múltiplas dimensões do objeto de estudo. A amostragem boa é, portanto, aquela que possibilita abranger a totalidade do problema investigado em suas múltiplas definições.


Referências
Metodologias e conceitos de pesquisahttp://www.propesquisa.com.br/welcome.phtml?sec_cod=90
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis/RJ: Vozes, 2001.
Concepções sobre a doença mental em profissionais, usuários e seus familiareshttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2003000100013
O processo de mudança em um hospital de Belo Horizonte: a visão da enfermeira-gerentehttp://www.dae.ufla.br/revista/revistas/2003/2003_2/revista_v5_n2_jul_de_%202003_8.pdf
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/1565/1/texto.pdf
EDUCAÇÃO INTEGRAL: UM MODELO DE ENSINO DA FISIOTERAPIA BASEADO NA FÍSICA QUÂNTICAhttp://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/13534.pdf
CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1991.

4 Comments:

At 10:46 AM, Blogger Rayner said...

muito bom, me ajudou bastante

 
At 10:46 AM, Blogger Rayner said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 9:10 PM, Anonymous Anônimo said...

Encontrei uma ajundinha neste blog. Fico grata.

 
At 11:06 AM, Blogger Unknown said...

Conteúdo muito útil e bem resumido. Muito obrigado pela disposição em colocá-lo à disposição.

 

Postar um comentário

<< Home