terça-feira, agosto 15, 2006

A entrevista centralizada no problema e principais aspectos

Edson Guedes
A entrevista centralizada no problema e principais aspectos

A entrevista centralizada no problema é um tipo de entrevista semi-estruturada onde, através da utilização de ferramentas e estratégias apropriadas (discutidas neste texto), torna-se possível levantar dados biográficos sobre um determinado problema.

Para tanto, esta apresenta três características principais: foco no problema (pesquisador se orienta em um problema social relevante), os métodos são desenvolvidos ou modificados com relação a um objeto de pesquisa e, por fim, a orientação do processo no processo de pesquisa e na compreensão do objeto de pesquisa.

Na concepção de Witzel, a entrevista qualitativa compreende um pequeno questionário precedente à entrevista, o guia da entrevista, o gravador e o pós-escrito.


O questionário precedente é utilizado, em geral, para coletar dados demográficos, o que permite economizar tempo durante a entrevista e reduz a possibilidade de perda de foco com questões não-relacionadas à questão central da entrevista. O guia, em particular, é a parte crucial da metodologia, juntamente com a conversa em si. O guia é uma espécie de roteiro bastante flexível para evitar que a entrevista fuja aos seus propósitos, segundo Witzel, “no caso de uma conversa estagnante ou de um tópico improdutivo”. O gravador permite o registro autêntico e preciso da entrevista, podendo ser imediatamente transcrita. Desta forma, o entrevistador pode se concentrar mais na discussão e observação (de expressões não-verbais, por exemplo) e se preocupar menos com o registro dos dados. Os pós-escritos são escritos logo após o final da entrevista para complementar a gravação. Ele envolve um esboço de tópicos discutidos, comentários de situações e aspectos não-verbais registrados pelo entrevistador durante a entrevista.

Estratégias comunicativas

A entrevista centralizada no problema possui quatro estratégias comunicativas principais – a entrada conversacional, as induções geral e específica e as questões ad hoc.

A entrada conversacional visa focar a discussão no problema em estudo. A questão é tão amplamente formulada que esta estratégia funciona como uma página em branco que é preenchida e estruturada pelo entrevistado com suas próprias palavras. Como exemplo, imagine que a questão poderia ser direcionada da seguinte forma: “Você quer ser um empresário bem-sucedido. O que você tem que fazer para conseguir isto? Como isso poderia acontecer?”. A última questão motiva o entrevistado a atuar de uma forma diferente da esperada nas entrevistas tradicionais.

Após a entrada conversacional, o entrevistador insere aspectos temáticos à medida em que eles são comentados nas respostas à questão introdutória. Assim, o entrevistador pode fazer perguntas que permitam delinear a história aos poucos, ampliando-a nas respostas do entrevistado, evitando fugir do foco. Ao mesmo tempo, o questionamento repetitivo de determinados tópicos mostra o interesse no detalhamento do mesmo. Exemplos concretos de experiências vivenciadas estimulam a memória do entrevistado, esclarecendo idéias abstratas e termos obscuros e ajuda a construir conexões concretas entre fatos passados.

Questões ad hoc são utilizadas quando certos tópicos não são abordados pelo entrevistado, mas são necessários para assegurar a validação da entrevista. Estas são mencionadas através de palavras-chave no guia ou podem também ser na forma de questões padronizadas e serem perguntadas ao final da entrevista para evitar que a entrevista se torne um jogo de perguntas e respostas na parte central da mesma. Por exemplo: “O que você gostaria de conseguir até os 30 anos?”.

Contribuição para a discussão metodológica geral

Witzel defende a utilização de um pequeno questionário junto à entrevista (questionário precedente, visto acima). Este possibilita que o pesquisador levante dados menos relevantes do que os tópicos da própria entrevista (por exemplo, dados demográficos) antes da entrevista real. Assim, o número de questões na entrevista é reduzido e o tempo pode ser melhor aproveitado. Neste ponto, Flick sugere a aplicação deste questionário ao final, “a fim de impedir que sua estrutura de perguntas e respostas se imponha sobre o diálogo na entrevista”.

Flick sugere ainda a aplicação do pós-escrito da entrevista centralizada no problema para outros tipos de entrevista. Ele acredita que essas informações podem ser úteis para a interpretação posterior dos enunciados da entrevista, “podendo permitir a comparação de diferentes situações de entrevista”.

1 Comments:

At 9:51 AM, Blogger Unknown said...

Muito boa a postagem, realmente contribuiu para o melhor entendimento da técnica.

 

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