quarta-feira, agosto 16, 2006

Etnometodologias


Nancy Lyra

No final dos anos 60, Harold Garfinkel publicou na Califórnia o livro “Studies in Ethnomethodology” que viria a tornar-se o marco fundador da corrente de sociologia americana,” mundialmente conhecida como Etnometodologia.
Provocando uma reviravolta na sociologia tradicional, a publicação da obra esquentou debates acadêmicos ao redor do mundo, principalmente na Alemanha, Inglaterra e França, onde anos mais tarde se consolidou e fortaleceu.
Estudos recentes apontaram como causas desta reviravolta, a influência da fenomenologia exercida sobre Garfinkel através de Alfred Schütz e Eduard Husserl, e que íam de encontro à Sociologia Tradicional da época.
Devido às influências, os etnometodológos estavam cientes que mesmo na criação de uma nova teoria, estudos anteriores seriam de grande proveito na validade de suas propostas, e por esta razão uma característica importante da Etnometodologia é o caráter de complementaridade e de valorização do aporte já construído pela ciência.
Alguns conceitos merecem ser ilustrados:

CONCEITOS e CARACTERÍSTICAS
* Prática/ realização
A realidade social é construída na prática do dia-a-dia. O senso comum é recuperado pela sociologia.

* Indicialidade
O mundo social é constituído de ações interacionais que podem ser estabelecidas através de uma linguagem. As expressões são indiciais, ou seja, expressam em si mesmas um conjunto de idéias que superam seu significado literal (“eu”, “etc”...).

* Reflexividade
O quadro social é constituído e descrito por práticas, ou seja, ações práticas são desenvolvidas ao mesmo tempo em que ações racionais são executadas motivadas tanto por estímulos externos (ambiente) como internos (próprios de cada pessoa).

* Relatabilidade
As atividades práticas são compartilháveis. O mundo tonra-se visível a partir das ações que realizamos, que são, por sua vez, compreensíveis e transmissíveis.

* Noção de Membro
A construção social é compartilhada dentro dos grupos. E um membro deste grupo é aquele que incorpora os etnométodos e exibe naturalmente a competência social que agrega a este grupo.

Uma vez expostos os principais conceitos, percebe-se que a Etnometodologia baseia-se fortemente no estudo do raciocínio prático do quotidiano, buscando evidências para reconstruir uma explicação da realidade observada. É o tipo de sociologia compreensiva que preconiza a experiência direta para a compreensão da realidade.

Uma vez propagada e amplamente discutida, essa nova teoria sociológica cindiu-se em duas:
Sociólogos que mantinham vínculos com a sociologia tradicional
Analistas de conversação
Os primeiros se preocupavam mais com os campos da educação, justiça, organizações e ciência e os segundos com a reconstrução da linguagem mais coloquial, a fim de extrair sentido e dar continuidade.

No âmbito das pesquisas, pesquisadores adeptos à Etnometodologia divergem das práticas que tentam reduzir os dados brutos de uma pesquisa, como entrevistas transcritas, formulários e afins, uma vez que estas desconsideram momentos reais da fala e da argumentação e podem incluir algum tipo de influência entre entrevistador e entrevistado.

De uma maneira geral, pelo que foi exposto, percebe-se que a Etnometodologia busca compreender como os indivíduos vêem, descrevem e propõem em conjunto uma definição da situação, partindo da premissa de que o fato social é produto da contínua atividade dos homens, e possibilita assim que haja melhoras nas técnicas de pesquisa, uma vez que possibilita uma reflexão sobre o processo investigatório e o lugar do pesquisador dentro dele.