quarta-feira, agosto 16, 2006

Entrevista Semipadronizada

Fábio Caparica Luna

Como um tipo de entrevista semi-estruturada, a entrevista semipadronizada parte da premissa de que os sujeitos entrevistados expressam seus pontos de vista mais facilmente em situações onde exista confiança, além de uma boa abertura e de uma sensível flexibilidade na interação com o entrevistador. O que se busca numa entrevista semipadronizada é a reconstrução dos conteúdos da teoria subjetiva (1) particular a cada sujeito. Para tal, é imprescindível trabalhar a colaboração entre entrevistador e entrevistado.
A aplicação desta técnica consiste basicamente de dois momentos distintos de contato entre o entrevistador e o entrevistado:

a) Num primeiro momento, numa entrevista são abordados diversos aspectos de um determinado tópico. Para tal, três tipos de questionamentos são empregados:
1. Questões abertas
Onde são introduzidos inicialmente os tópicos que se desejam obter detalhamentos. Espera-se que os entrevistados consigam expressar nas respostas o conhecimento que eles já possuem a mão.
2. Questões controladas pela teoria e direcionadas para as hipóteses
Baseadas na fundamentação teórica adotada pelo pesquisador sobre um tópico, estas questões buscam explicitar o conhecimento implícito do entrevistado a respeito do tópico. Recomenda-se que estas questões sejam apresentadas ao entrevistado como proposições que ele possa adotar ou recusar.
3. Questões confrontativas
Buscam detalhar criticamente as teorias reveladas no discurso do entrevistado até este momento.

Após este primeiro momento, e num período não superior a duas semanas, são feitas as transcrições da entrevista e uma rápida análise de seu conteúdo.

b) Em um segundo momento, a Técnica da Disposição da Estrutura (TDE) é aplicada. Nesta técnica, os conceitos oriundos do primeiro encontro com o entrevistado são apresentados em pequenos cartões com dois objetivos:
1. Avaliar/Validar os conteúdos
Onde se solicita ao entrevistado que ele avalie se os conceitos que ele apresentou no primeiro momento estão corretamente representados nos cartões. Caso não estejam, o entrevistado tem a liberdade de reformular, substituir ou eliminar o conteúdo dos cartões pelos que ele julgar mais apropriados.
2. Estruturar os conceitos aplicando as regras da TDE.
O entrevistado é apresentado à TDE, para familiarizá-lo com o seu conceito e com as suas regras de aplicação. Após o entrevistado estruturar a representação gráfica da sua teoria subjetiva, é feita uma comparação entre as representações gráficas do entrevistado e a que o entrevistador elaborou no intervalo entre os dois momentos. Esta comparação tem por objetivo fazer com que o entrevistado confronte os pontos de vista e reflita novamente sobre suas opiniões.

Em ambos os momentos do método, há dificuldade em se definir o grau de clareza do entrevistador ao explicar os procedimentos e seus objetivos para o entrevistado bem como a dificuldade de gerenciar um possível stress resultante das questões confrontativas. Habitualmente, sugere-se deixar claro que a correta aplicação da TDE e de suas regras não são uma avaliação do desempenho do entrevistado na execução de uma tarefa.
Esta metodologia permite que o pesquisador trabalhe mais próximo de suas próprias inferências sobre o que se obtém dos entrevistados. Baseando-se num diálogo entre entrevistado e entrevistador, as posturas de ambos convergem em torno de um movimento de colaboração na busca pelo melhor entendimento entre estes. A utilização da Técnica da Disposição da Estrutura (TDE), permite que as várias formas de questionamento utilizadas sejam estruturadas de uma melhor forma, buscando tornar o conhecimento ali registrado, mais fácil de ser interpretado.
Na sua aplicação, existem alguns fatores que devem ser observados, e que limitam sua eficiência caso não sejam bem ponderados. Adaptar a metodologia às questões da pesquisa em curso, bem como aos sujeitos participantes da pesquisa são exemplos destes cuidados que devem ser mantidos em foco.

Referências bibliográficas:
Flick, Uwe Uma introdução à pesquisa qualitativa / Uwe Flick;
trad. Sandra Netz. – 2.ed. – Porto Alegre : Bookman, 2004.

Hermenêutica @ Wikipedia (acessado em 28/06/06).
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermen%C3%AAutica

Pesquisa de mercado qualitativa @ Wikipedia (acessado em 28/06/06)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pesquisa_de_mercado_qualitativa

Entrevista @ Wikipedia (acessado em 28/06/06)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Entrevista

Entrevistas a Stakeholders @ Wikipedia (acessado em 28/06/06)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Entrevistas_a_Stakeholders