quarta-feira, agosto 16, 2006

Pontos em comum entre as posturas teóricas de pesquisa qualitativa: Estruturalismo, Etnometodologia e interacionismo simbólico.

Paulo Roberto

A pesquisa qualitativa possui “várias abordagens de pesquisa que diferem em suas suposições teóricas, no modo como compreendem seu objeto e em seu foco metodológico” [1]. Existem três posturas básicas na pesquisa qualitativa: interacionismo simbólico, etnometodologia e estruturalismo.

O interacionismo simbólico foca no estudo dos significados subjetivos que os próprios indivíduos atribuem para as atividades que praticam e para os ambientes em que vivem. “O interacionismo simbólico ancora-se numa concepção teórica que considera que os objetos sociais são construídos e reconstruídos pelos atores interminavelmente” [2].

Procurando superar as limitações do interacionismo e seu interesse pelos pontos de vista dos sujeitos, surge a etnometodologia que procurar lidar com a questão de como as pessoas produzem a realidade social. “A etnometodologia busca abordar as atividades práticas, as circunstâncias práticas e o raciocínio sociológico prático desenvolvido pelos atores no curso de suas atividades cotidianas, sejam estas atividades ordinárias ou extraordinárias, partindo de um raciocínio profissional ou não. Considera que a realidade social é construída na prática do dia-a-dia pelos atores sociais em interação; não é um dado pré-existente” [2].

“O Estruturalismo procura explorar as inter-relações (as "estruturas") através das quais o significado é produzido dentro de uma cultura” [3]. “O Estruturalismo analisa sistemas em grande escala examinando as relações e as funções dos elementos que constituem tais sistemas, que são inúmeros, variando das línguas humanas e das práticas culturais aos contos folclóricos e aos textos literários” [4].

Apesar de existirem essas três posturas teóricas na pesquisa qualitativa, existem alguns aspectos comuns entre essas três abordagens:

Verstehen como princípio epistemológico: Verstehen (Compreensão), também conhecido como sociologia interpretativa, tenta entender a opinião do sujeito, as conversas, discurso, processo de trabalho ou regras culturas através do interior do sujeito. “Relata como os sujeitos dão significado ao mundo social ao redor deles” [5]. Todas as três posturas teóricas utilizam-se desta abordagem, diferindo apenas na forma de expressar metodologicamente essa compreensão.

A reconstrução de casos como ponto de partida: Outro aspecto em comum entre as três posturas teóricas, é que antes de elaborar enunciados gerais ou enunciados comparativos, é primeiro analisado o caso único. O que difere entre as posturas teóricas é exatamente o que seria este “caso único”. “O que em cada caso é entendido como “caso” – um indivíduo e seu ponto de vista, uma interação delimitada em local e tempo, ou um contexto específico social ou cultural no qual um evento se desdobra – depende da postura teórica utilizada para o estudo do material”. [6].

A construção da realidade como base: Todos os casos únicos (mostrados no tópico anterior) contribuem para a construção da realidade – os sujeitos contribuem para a construção da realidade com suas opiniões sobre determinado fenômeno, assim como as conversas e discursos. “Portanto, a realidade estudada pela pesquisa qualitativa não é uma realidade determinada, mas é construída por diferentes atores” [7]. Em todas as posturas teóricas existe um processo de definição do ator para que melhor seja a compreensão sobre sua atuação no ambiente, as abordagens teóricas diferem entre si, exatamente na questão de decidir qual é o ator crucial para a construção mais fidedigna da realidade.

O texto como material empírico: O texto é a base no processo de reconstrução de casos. Todas as posturas teóricas utilizam textos bem detalhados para a reconstrução e interpretação de casos. As posturas teóricas diferem na categorização desses textos.

Referências:

[1] Flick, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. 2ª edição. Pág.: 33.
[2] http://www.emtese.ufsc.br/h_Adalto.pdf
[3] http://pt.wikipedia.org/wiki/Estruturalismo
[4] http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2002/07/05/004.htm
[5] http://en.wikipedia.org/wiki/Verstehen
[6] Flick, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. 2ª edição. Pág.: 42.
[7] Flick, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. 2ª edição. Pág.: 43.