quarta-feira, agosto 16, 2006

Narrativas conjuntas: comparando com grupo focal e entrevista de grupo

Hially Sa

A narrativa conjunta é mais uma técnica para coleta de dados que está na mesma família do grupo focal e da entrevista em grupo, mas que possui algumas peculiaridades. Através de estudos de famílias foi constatado que os componentes do grupo durante a dinâmica de coleta de dados relatam suas histórias, experiências e opiniões de maneira conjunta, ou seja, eles narram de forma complementar modelando sua realidade do dia a dia naquele momento. Para a aplicação desse método é necessário que todos os membros da família estejam juntos na casa durante a dinâmica. E o condutor deve evitar fazer o uso do estímulo inicial para a narrativa e também de fazer intervenções para que os próprios membros conduzam a situação.
Um tanto diferente ocorre com os métodos de entrevista em grupo e em grupo focal. O grupo focal que é uma técnica qualitativa, não-diretiva e foi inspirada em técnicas de entrevista não-direcionada e técnicas grupais usadas na psiquiatria. Os participantes não se conhecem, mas possuem características comuns. Eles são selecionados por suas possuir um determinado conhecimento ou insight sobre o assunto em estudo. O facilitador da discussão deve estabelecer e facilitar a discussão e não realizar uma entrevista em grupo. O moderador/investigador tem o papel de um agente facilitador do grupo e tem como uma das suas tarefas fundamentais, apresentar aos membros do grupo, explicações claras e objetivas sobre o trabalho a ser desenvolvido. Naturalmente, exige-se que o moderador tenha experiência na condução de trabalhos com grupos e seja capaz de promover o debate, fazendo perguntas abertas e lançando desafios aos participantes. É desejável que o moderador/investigador tenha conhecimento das características dos membros do grupo, especialmente sobre as diferenças entre os membros, detalhes sobre as relações entre eles que possam favorecer a interpretação e a análise dos dados a recolher. Normalmente para se começar a discussão é fornecido algum tipo de estímulo ou aquecimento.
Já no método de entrevista de grupo a entrevista deve ser feita com um tópico específico e o grupo normalmente é de seis a nove pessoas. Ela permite que o entrevistador participe de atividades junto com o grupo. Sentindo funcionar, mergulhar em sua dinâmica, coletar informações sobre ele ao vivo. Observar, interagir, viver o grupo. Nesta etapa, o entrevistador organiza sua intervenção seguindo uma metodologia que trabalha com os conteúdos do livre para o lógico e de dentro para fora, com uma postura de horizontalidade. As atividades propostas são criteriosamente escolhidas, no sentido de fornecer os dados mais completos sobre as dificuldades de funcionamento daquela equipe. O entrevistador deve ter equilíbrio em sua conduta e saber estimular os componentes de comportamento mais reservado.
No método de narrativa conjunta o objetivo é que a discussão seja dirigida pelos membros da família. A situação da pesquisa deve ser semelhante ao cotidiano das histórias da família. A pesquisa pode resultar materiais extensos, as interpretações são muito vultosas. O principal interesse no seu uso é o processo de construção conjunta da realidade de maneira como ela ocorre naquele momento e naquele grupo.
Na entrevista de grupo, o entrevistador media os diferentes participantes, deve impedir que indivíduos dominem a entrevista com suas opiniões. Pode-se também usar duplas de entrevistadores, um fica livre para mediar o grupo e a entrevista e o outro documenta as respostas.
No grupo focal ressalve-se a fundamental importância da participação do moderador/investigador no processo de decodificação, interpretação e análise dos dados, pois ele possui informações privilegiadas sobre expressões faciais, gestos, tom de voz e os contextos dos discursos. A dificuldade encontrada nesse método é em conseguir participantes quando estes devem obedecer a critérios muito específicos; a produção de polêmicas e oposição na discussão, além de invalidação dos achados devido à ingerência de alguns dos participantes.
A seguir uma tabela apresentando tópicos importantes de cada método:

O conceito de mimese na pesquisa qualitativa

Eudes Canuto

É de Aristóteles, filósofo grego, que vem o conceito de mimese, isto é, imitação da realidade. Tanto Platão quanto Aristóteles viam, na mimese, a representação da natureza. Contudo, para Platão toda a criação era uma imitação, até mesmo a criação divina era uma imitação da natureza verdadeira (o mundo das idéias). Sendo assim, a representação artística do mundo criado por Deus (o mundo físico) seria uma imitação de segunda mão. Ou seja, para Platão mimese é imitação.

Já Aristóteles via o drama como sendo a “imitação de uma ação”, que na tragédia teria o efeito catártico. Como rejeita o mundo das idéias, ele valoriza a arte como representação do mundo. Esses conceitos estão no seu mais conhecido trabalho, a Poética. Ou seja, para Aristóteles mimese é representação. Mais recentemente Erich Auerbach, Merlin Donald e René Girard escreveram sobre a mimese. [1]

A mimese é imitação da ação. Há uma separação entre os indivíduos que praticam as artes miméticas e esta divisão é estabelecida conformemente à qualidade dos que representam a imitação. Conclui-se, por fim, que todas as artes poéticas - inclusive a dança, pintura, escultura e música - são reconhecidamente artes miméticas. [2]


Figura 1 – Nesta figura vemos o exemplo de como a expressão artística de um desenhista faz com que o mundo real (piano) seja o modelo do original (desenho). [3]

Como fazer um paralelo do conceito de mimese e a pesquisa qualitativa?

A pesquisa qualitativa, no qual é empregada mais comumente nas ciências sociais, considera textos como material empírico para condução das pesquisas. Já que o texto é algo a ser interpretado para a construção de novas realidades, é necessário também que a realidade do texto seja traduzida para o mundo real, isto é, interpretação de dados como texto, e de texto como dados. O texto é tratado como concepção do mundo, e como discutido pela filosofia moderna, existe a crise da representação e crise da legitimação, que limitam a forma de se conduzir uma pesquisa é através da construção da realidade em textos.

Figura 2 – Flick, Uwe – Introdução à Pesquisa Qualitativa. 2ºEd. Pag. 48



A figura acima mostra bem o ciclo de elaboração de um texto dentro de uma pesquisa. Primeiramente temos os eventos que o pesquisador observa, sendo classificado como experiência, em seguida tem-se a construção do texto a partir das versões de mundo, fruto do conhecimento e finalmente a interpretação que se é feita do texto, atribuindo algum significado.

A mimese na pesquisa qualitativa seria então a concepção do mundo no texto, no qual os indivíduos assimilam o mundo através de processos miméticos. A mimese possibilita que os indivíduos saiam de si mesmos, tracem o mundo exterior dentro de seu mundo interior e dêem expressão a sua interioridade. Cria uma proximidade, de outra maneira inalcançável, com os objetos, sendo assim uma condição necessária da compreensão.

Ao aplicar essas considerações à pesquisa qualitativa e aos textos utilizados dentro da pesquisa, os elementos miméticos podem ser identificados nos seguintes aspectos:

· Na transformação das experiências em narrativas, relatos, etc. por parte das pessoas que estão sendo estudadas.

· Na construção de textos nessa forma, e na interpretação de tais construções por parte dos pesquisadores.

· Por último, quando essas interpretações são reabastecidas em contextos diários, por exemplo, na leitura das apresentações dessas descobertas.

Na pesquisa qualitativa, a produção de textos, a pessoa que lê e interpreta o que está escrito está tão envolvida na construção da realidade quanto a pessoa que redige o texto. [4]
[1] Wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Mimesis
[2] O conceito de mimesis na poética de Aristóteles http://br.geocities.com/ferreavox/mimesis.html
[3] Mimesis: reconsideration of an apparently obsolete concept
http://d-sites.net/english/mimesis.htm
[4] Flick, Uwe – Introdução à Pesquisa Qualitativa. 2ºEd. Pag. 48

Geração de Variáveis na Pesquisa Qualitativa

Daniel Agra

A pesquisa qualitativa é particularmente útil como uma ferramenta para determinar o que é importante para os clientes e porque é importante. Esse tipo de pesquisa fornece um processo a partir do qual questões-chave são identificadas e perguntas são formuladas, descobrindo o que importa para os clientes e porquê.

Esse tipo de pesquisa também é usado para identificar a extensão total de respostas ou opiniões que existem em um mercado ou população. A pesquisa qualitativa ajuda a identificar questões e entender porque elas são importantes. Com esse objetivo em mente, também é importante trabalhar com uma amostra heterogênea de pessoas enquanto se conduz uma pesquisa qualitativa.

Através da Pesquisa Qualitativa, são encontradas que variáveis são relevantes para o público em questão. Uma vez realizada esta pesquisa e descobertas as variáveis de real importância, é possível realizar uma pesquisa quantitativa, na qual são apresentadas as possibilidades para o entrevistado indicar qual se aplica mais a ele. Na pesquisa qualitativa o entrevistado não tem alternativas, o entrevistador anota tudo o que é dito, portanto é uma pesquisa de difícil tabulação, uma vez que as respostas são muito variadas.

Podemos citar como exemplo a empresa Fundepec, do mercado de carne bovina. Na época da Aliança Mercadológica o FUNDEPEC começou a divulgar alguns termos como Novilho Precoce e Garantia de Origem. Entretanto, em pouco tempo de trabalho, desconfiou-se que os consumidores confundiam ou simplesmente desconheciam muitos destes termos. Assim sendo o FUNDEPEC resolveu realizar uma pesquisa qualitativa com o consumidor tendo por objetivo descobrir variáveis de qualidade relevantes para o consumidor de carne bovina e saber o que ele entende por: Qualidade Garantida, Garantia de origem, Novilho Precoce e SIF. Alguns resultados podem ser resumidos nos seguintes gráficos, como resposta para a pergunta “Defina Qualidade de Carne”:

Os dados acima foram retirados das respostas dos entrevistados e enquadrados em resposta que abrangem todas as possibilidades ou pelo menos as mais relevantes.


Referências

http://www.ethos.com.br/diferenciais/pesquisaqualitativa.htm
http://www.fundepec.org.br/pesquisa/index.asp

A Entrevista Episódica

Francisco Araújo
Para uma melhor compreensão do que se trata entrevista episódica, comecei por encontrar a definição de “entrevista” e “episódica”. Podemos entender entrevista como: “Repórteres entrevistam suas fontes para obter destas declarações que validem as informações apuradas ou que relatem situações vividas por personagens. Antes da entrevista, o repórter costuma reunir o máximo de informações disponíveis sobre o assunto a ser abordado e sobre a pessoa que será entrevistada. Munido deste material, ele formula perguntas que levem o entrevistado a fornecer informações novas e relevantes. O repórter também deve ser perspicaz para perceber se o entrevistado mente ou manipula dados em suas respostas. O entrevistador deve conquistar a confiança do entrevistado, mas não tentar dominá-lo, nem ser por ele dominado. Caso contrário, acabará induzindo as respostas ou perdendo a objectividade.” (Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Entrevista)
Por outro lado episódica, pode ser entendido como:” que sobrevém como episódio” Fonte: (http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx)
A leitura separada do significado de “entrevista” e posteriormente de “episódica” não reflecte o seu real significado no contexto de pesquisa qualitativa.
O ponto de partida para entrevista episódica é a suposição que as experiências que um sujeito adquire sobre um determinado domínio estejam armazenadas e sejam lembradas nas formas de conhecimento narrativo-episódico e semântico. Enquanto o conhecimento episódico possui uma organização que se aproxima mais das experiências, estando vinculado a situações de circunstâncias concretas, o conhecimento semântico baseia-se em suposições e relações abstraídas destas e generalizadas. Para o primeiro, o curso da situação em seu contexto representa a unidade principal em torno do conhecimento organizado.
No conhecimento semântico os conceitos e suas relações entre si são as unidades centrais.
  • Elementos de uma entrevista episódica
O elemento central de uma entrevista episódica é o convite periódico à apresentação de narrativas de situações. Um guia da entrevista é elaborado a fim de orientar o entrevistador para os domínios de tópicos para os quais essa narrativa é uma exigência. A fim de familiarizar o entrevistado com essa forma de entrevista, explica-se, em primeiro lugar, seu princípio básico. Um outro aspecto são as fantasias do entrevistado acerca de mudanças esperadas ou temidas (“em um futuro próximo, que avanços você espera na área da computação?). Esses incentivos narrativos são complementados por perguntas feitas em relação a definições subjectivas do entrevistado e a relações abstrativas, que formam o segundo grande complexo de questões que visam acessar componentes semânticos do conhecimento cotidiano.
  • Problemas que possam surgir na condução de uma entrevista

O problema geral das entrevistas que geram narrativas – o de que algumas pessoas têm mais dificuldade com a narração do que outras – também ocorre aqui. Porém, aqui, há uma qualificação desse problema, porque não se exige uma narrativa global única – como na entrevista narrativa – mas, em vez disso, estimulam-se diversas narrativas delimitadas. A questão relativa a como mediar o princípio do relato de determinadas situações para o entrevistado deve ser cuidadosamente controlada para evitar que situações (nas quais certas experiências tenham ocorrido) sejam mencionadas mas não contadas. Assim como em outras formas de entrevista, a precondição essencial é a de que o entrevistador tenha realmente internalizado o principio da entrevista. Portanto, um treinamento meticuloso aproveitando exemplos concretos é também, neste caso, necessário, devendo concentrar-se em como lidar com o guia da entrevista, e, sobretudo em como estimular as narrativas e – onde for necessário – como expressar investigações aprofundadoras.
Para uma melhor compreensão de questões de uma entrevista episódica, apresento alguns exemplos de questões extraídas da entrevista episódica:

  • Para você, qual é o significado da tecnologia? O que você associa à palavra “tecnologia”?
  • Quando ocorreu o seu primeiro contacto com um computador? Você poderia falar mais sobre essa situação?
  • Existem áreas em sua vida nas quais a entrada da tecnologia causa temor? Fale sobre uma situação que represente isso?
  • O que lhe dá a impressão de que um determinado tipo de tecnologia ou de equipamento está ultrapassado? Fale sobre uma situação típica.

A entrevista episódica, tal como todos os tipos de entrevista, também apresenta limitações no seu método de pesquisa. A sua aplicação limita-se análise do conhecimento cotidiano de determinados objectos e tópicos e da própria história dos próprios entrevistados com estes. Como ocorre com outras entrevistas, esta não permite o acesso nem às actividades nem às interacções, que, no entanto, podem ser reconstruídas a partir de pontos de vista dos participantes, sendo possível esclarecer as diferenças especificas de grupo em tias experiências.
Por outro lado, existe um ajuste um método das entrevistas episódicas dentro do processo de pesquisa. Os estudos que utilizam a entrevista episódica utilizam como pano de fundo a construção social da realidade durante apresentação das experiências. O método foi desenvolvido como uma abordagem para as representações sociais. Por esta razão, as questões de pesquisa, até ao momento, têm se concentrado em diferenças especificas de grupo de experiências e no conhecimento do cotidiano.
A relação entre uma compreensão linear e uma compreensão circular do processo de pesquisa subjaz à sua aplicação.

Referências:

Entrevista de Grupo e Discussão em Grupo

Guilherme Oikawa

Introdução

Pertencentes a mesma família de técnicas, entrevistas e discussões em grupo possuem tênues diferenças. Enquanto alguns pesquisadores consideram entrevistas e discussões o mesmo método, outros insistem em mantê-los disjuntos.
De acordo com Krüger, as discussões em grupos são feitas de forma desestruturada, com questões abertas. As entrevistas em grupos são aquelas entrevistas realizadas com mais de uma pessoa de uma só vez. Já os grupos de foco são considerados entrevistas ou discussões em grupo sobre um tópico em particular.
Todavia não se nota a diferença na definição delas em vários artigos e livros. Tratam as palavras como sinônimas e confundem a cabeça do leitor. Veja mais sobre essa indefinição nesses links: 1 2 3.

Vantagens e desvantagens
Apesar de sofrerem muitas críticas, as entrevistas e discussões em grupo são freqüentemente praticadas nas pesquisas de mercado e na área de teoria política. Por outro lado, no meio acadêmico predomina a entrevista individual em profundidade. Isso pode ser explicado pela menor quantidade de entrevistas necessárias numa entrevista de grupo, em comparação a entrevistar uma pessoa por vez.
Através da reunião de um reduzido número de pessoas liderado por um ou mais moderadores, a metodologia estimula a conversação e geração de reações emocionais, em muito pouco tempo.
Não se recomenda a utilização de métodos assuntos sensíveis ou ambientes conturbados; em questões que exijam sigilo e quando houver necessidade de recursos quantitativos.

Participantes

Nessas técnicas dois tipos de atores tomam parte: o facilitador e o grupo. O primeiro é quem comanda a inquirição. A ele é dado o papel de moderador, evitando que a discussão entre em áreas irrelevantes. Deve conhecer o assunto, respeitar as opiniões alheias, saber ouvir os outros e incentivar a todos a participarem da discussão. O facilitador deverá “respeitar o participante, não criticá-lo, ouvir e não ensinar”, observar as expressões corporais do grupo, em busca de sinais de entendimento, dúvida, concordância e discordância.
É preferível que os membros sejam de um grupo homogêneo, para deixar os participantes mais à vontade, porém sem excluir o contraste de idéias.
O número de entrevistados gira em torno de 5 a 10 pessoas. Não é aconselhável convidar mais de 10 pessoas para a discussão, pois o grupo fica disperso, começam a surgir os sussurros - pessoas comentando com os vizinhos - já que nem todos podem participar.

Condução
Evite questões de respostas simples, como “sim”, “não”, “claro”, “correto”, “errado”... Se possível, as perguntas devem ser simples, neutras e do lado positivo da questão (diferentemente da questão elaborada para o plebiscito do desarmamento).
Fig. 1 Para gerar comentários, o moderador pode convidar os membros a contar suas experiências, pensamentos e idéias. Sugere-se também que se abra a discussão com perguntas generalizadas, principalmente a pessoas que se mostrem mais confortáveis a falar.

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Processo
(1) O moderador se apresenta e pede que os participantes façam o mesmo. (2) Começa com uma explicação sobre toda técnica de discussão e o que se espera dos participantes. (3) O facilitador tenta tirar a pressão dizendo que não espera resposta que seja boa ou má, mas apenas quer saber a opinião de todos sobre determinado tópico. (4) É apresentado um estímulo para a discussão. Pode ser em multimídia. (5) A discussão é concluída quando o moderador perceber que o tema já foi demasiadamente explorado e nada de novo irá surgir.

Análise
A análise é um processo demorado, podendo durar meses. Os dados coletado são dados brutos, precisando ser lapidados através dos seguintes passos: (1) Após a reunião reveja o que foi anotado, marque os pontos principais e procure as novas descobertas surgidas. (2) Verifique o contexto e a consistência das idéias, o padrão de repetição e os pontos de bloqueio. (3) Reveja as gravações de áudio e vídeo e anote os principais pontos da discussão. (4) Procure também filtrar as opiniões individuais das opiniões do grupo.
Para a análise de dados existem duas formas: sumário etnográfico ou codificação de dados através de analise de conteúdo. Neste a ênfase é na questão numérica das descrições, enquanto naquele observa-se as citações dos participantes.
Os resultados gerados não podem ser considerados projecionais, devido ao espaço amostral, e sim exploratórios. Os relatórios obtidos podem conter citações, gravuras, resumos e tabelas baseados nesses resultados.

Considerações finais
Os métodos de entrevistas e discussões em grupo mostraram-nos como termos uma visão holística do pensamento humano. Não obstante seus limites éticos, o coletivismo dessas técnicas tem por fim revelar normas coletivas que individualmente dificilmente conseguiríamos.
Para tal fim, o facilitador deve obedecer alguns padrões de conduta e estar preparado para a discussão. Devemos também citar outros fatores que influenciam o debate, como o número de participantes, o perfil de cada um e o local de discussão.

Acesso a pessoas e empresas na pesquisa qualitativa

Flávio Luiz

Introdução

A pesquisa social tem sido marcada fortemente por estudos que valorizam o emprego de métodos quantitativos para descrever e explicar fenômenos. Hoje, porém, podemos identificar outra forma de abordagem que se tem afirmado como promissora possibilidade de investigação: trata-se da pesquisa qualitativa. Surgido inicialmente na antropologia e na sociologia, nos últimos 30 anos esse tipo de pesquisa ganhou espaço em áreas como a Psicologia, a educação e a administração de empresas.

A pesquisa qualitativa permitiu ter acesso a uma riqueza maior de informações sobre um tema que os dados normalmente frios da pesquisa quantitativa não conseguem explorar. Permite ter acesso a dados descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo. Nas pesquisas qualitativas é comum o pesquisador procurar entender os fenômenos, segundo a perspectiva dos participantes da situação estudada e, a partir, daí situe sua interpretação dos fenômenos estudados.

A pesquisa qualitativa começou a crescer devido a suas características principais: o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental; o caráter descritivo; o significado que as pessoas dão às coisas e a sua vida como preocupação do investigador; e o enfoque indutivo.

De modo diferente da pesquisa quantitativa, os métodos qualitativos consideram a comunicação do pesquisador com o campo e seus membros fazem parte da pesquisa. As subjetividades do pesquisador e daqueles que estão sendo estudados são parte do processo de pesquisa. As reflexões dos pesquisadores sobre suas ações e observações no campo, suas impressões, irritações, sentimentos tornam-se dados da pesquisa.

As empresas e a pesquisa exploratória de campo

As grandes empresas começaram a perceber a importância desse tipo de pesquisa para conseguir traçar um perfil mais completo e abrangente dos seus clientes no uso de seus produtos. Tornou-se parte indispensável poder analisar como o cliente se comporta no seu ambiente utilizando os produtos da empresa.

Esse é o tipo de pesquisa em que o pesquisador se insere no ambiente do cliente para entender seus comportamentos, desejos, vontades. Identificar como o cliente se utiliza de certo conceito ou ferramenta para assim o pesquisador e a empresa poderem adaptar seus produtos a essas novas necessidades do cliente.

As pesquisas exploratórias de campo servem bem a esse intuito, nelas o pesquisador se insere no ambiente do cliente, porém evitando ao máximo causar interferência. O pesquisador deve coletar o máximo de informações possível sobre o comportamento do cliente desde o momento em que acorda até o momento que vão dormir.

Pois pode ser no detalhe de um gesto, de uma ação não verbal que pode residir toda a diferença em um produto que dá certo e outro que não. A pesquisa exploratória de campo pode passar de uma simples anotação de informações num caderno pelo pesquisador passando pelos clientes secretos até em casos mais radicais pedir que o cliente tire fotos de tudo que tocar para entender como é o dia desse cliente.

Esse tipo de pesquisa tem vários benefícios para a empresa, esta pode ser usada para contextos de pesquisa em que o assunto não tem tanto detalhamento teórico, ou para poder testar a aceitabilidade de um produto em escala reduzida para depois expandi-la em escala nacional.

Como as pessoas podem usar a pesquisa qualitativa?

A pesquisa qualitativa não pode ser vista nem mistificada como algo difícil de ser colocado em prática, nela não é necessário ter vastos conhecimentos teóricos sobre o método para poder usar de seus benefícios.Nem tampouco precisam possuir conhecimentos estatísticos ou matemáticos para utilizar a maioria das técnicas da pesquisa qualitativa.

O pesquisador pode interagir com o alvo da pesquisa com técnicas que precisam de poucos recursos de infra-estrutura para colocar em prática como por exemplo a entrevista narrativa e ainda ser possível adquirir uma riqueza enorme de dados para a pesquisa em questão.

Conclusão

A pesquisa qualitativa veio a possibilitar a adquirir uma riqueza maior de informações que ainda não era possível somente com a pesquisa quantitativa. Com o intuito de obter informações do ponto de vista subjetivo de uma pessoa sobre um assunto, permitiu que esse tipo de pesquisa fosse amplamente usado nas ciências sociais.

As empresas fazendo parte de um mercado altamente competitivo estão cada dia precisando se diferenciar umas das outras para ganhar a preferência dos clientes pelo seu produto em relação ao da concorrência. Nesse mercado sai ganhando a empresa que entende as necessidades do cliente. As empresas então começaram a usar a pesquisa qualitativa como forma de adquirir o máximo de informações sobre seu cliente para modificar os produtos já existentes ou criar novos produtos que se adaptem as necessidades crescentes dos clientes.

Deve-se também desmistificar a possível dificuldade de se colocar em prática métodos qualitativos nas pesquisas como acontece com a pesquisa quantitativa. Existem métodos e técnicas simples e que com poucos recursos técnicos, pessoais e de infra-estrutura o pesquisador consegue coletar dados que serão de extrema importância para sua pesquisa.

A seleção de técnicas para a pesquisa qualitativa

Felipe Levy

Os métodos qualitativos trazem como contribuição no trabalho de pesquisa uma mistura de procedimentos de cunho racional e intuitivo capazes de contribuir para a melhor compreensão dos fenômenos estudados. Nas ciências sociais, os pesquisadores, ao empregarem métodos qualitativos, estão mais preocupados com o processo social do que com a estrutura social. Buscam visualizar o conceito e, se possível, ter uma integração empática com o processo objeto de estudo que implique melhor compreensão do fenômeno.

De maneira geral, os dados coletados na pesquisa qualitativa podem ser agrupados de acordo com sua natureza: verbal ou visual. Na coleta de dados verbais, os principais métodos utilizados são as entrevistas semi-estruturadas (entrevista focal, entrevista semipadronizada, entrevista centralizada no problema, entrevista com especialistas, entrevista etnográfica), as entrevistas narrativas, as entrevista episódicas, as entrevistas de grupo, as discussões em grupo, os grupos de foco e as narrativas conjuntas.

Já na coleta de dados visuais, os principais métodos utilizados são a observação, a observação participante, a etnografia, as fotografias como instrumento e objeto de pesquisa e a análise de filmes como instrumento de pesquisa.

Diante de tantos métodos disponíveis à coleta de dados na pesquisa do tipo qualitativa, o pesquisador deve utilizar critérios ou pontos de referência para seleção da(s) técnica(s) mais adequada à sua pesquisa. Não existe uma técnica ideal que deva ser empregada em toda pesquisa e nem todas as técnicas são igualmente aplicáveis em qualquer estudo qualitativo, assunto do qual trataremos mais adiante.

As técnicas para coleta de dados verbais e visuais podem ser comparados de acordo com critérios possivelmente relevantes em uma pesquisa qualitativa, entre eles:

- a abertura para a visão subjetiva do(s) sujeito(s) da pesquisa;

- a abertura para o processo de ações e interações objeto do estudo;

- a estruturação (por exemplo, o aprofundamento) do assunto;

- sua contribuição para o desenvolvimento geral do método;

- o domínio, campo ou área da aplicação da técnica;

- os problemas que podem surgir na condução do método;

- as limitações do método.

As diversas técnicas que visam à coleta e análise de dados verbais e visuais devem ser selecionadas em conformidade com o próprio estudo, sua questão de pesquisa, seu grupo-alvo, entre outros fatores. A questão de pesquisa e o assunto em estudo são os primeiros tópicos a serem considerados na decisão a favor ou contra o uso de um dado método na pesquisa. Alguns exemplos:

- para estudar os processos de desenvolvimento de opiniões, a dinâmica das discussões em grupo seria a técnica mais intuitiva, ao passo que dificulta bastante a análise de experiências individuais;

- eventos do passado podem ser mais bem analisados por intermédio daqueles materiais visuais que surgiram na época em que esses eventos aconteceram; etc.

Os sujeitos da pesquisa constituem o segundo fator a se analisar na decisão sobre a apropriabilidade ou não de uma certa técnica. Por exemplo, para algumas pessoas, reconstruir sua teoria subjetiva sobre um dado assunto ou situação é um procedimento muito estranho, enquanto que para outras pessoas isso é bastante confortável. Outro caso seria o de pessoas que se irritam e constrangem-se mais pela simples observação do pesquisador ou presença da câmera de vídeo do que pela participação temporária do observador em sua vida diária ou o uso de uma simples câmera fotográfica. Estes são apenas alguns exemplos práticos para a seleção da técnica a ser utilizada.

Uma questão essencial a ser considerada é a análise da primeira aplicação da(s) técnica(s) selecionada(s) no campo de pesquisa. O pesquisador deve estar atento em definir até que ponto o método escolhido foi aplicado em conformidade com suas regras e seus objetivos. Após ajustar-se a aplicação ou mesmo a escolha da própria técnica de pesquisa, o pesquisador deve continuar investigando a apropriabilidade da mesma. Listas de verificação (checklists) podem ser utilizadas para essa finalidade.

Os métodos a serem selecionados para a coleta de dados devem ser combinados com os métodos para análise dos dados. De maneira semelhante, a escolha dos métodos verbais e visuais deve levar em consideração os métodos de amostragem disponíveis. Uma próxima etapa seria verificar até que ponto o plano de estudo e sua compreensão das etapas individuais são compatíveis com o conhecimento inerente ao método.

Ressaltamos que não existe um método “ideal” de se estudar algum assunto, ou apenas um caminho legítimo e legítimo em termos metodológicos. A combinação de métodos distintos apresenta-se como uma alternativa para resolver o problema da apropriabilidade do método de pesquisa, principalmente em estudos etnográficos. Em pesquisas qualitativas, uma maneira para se checar a consistência dos dados coletados (validade e confiabilidade são medidas de consistência) é utilizar a triangulação, isto é, empregar métodos diferentes de coleta dos mesmos dados e comparar os resultados. Vários autores defendem a idéia de combinar métodos quantitativos e qualitativos com intuito de proporcionar uma base contextual mais rica para interpretação e validação dos resultados.

Vale ressaltar, finalmente, que, embora se possa distinguir o enfoque dos métodos qualitativos dos quantitativos, não é correto afirmar que eles guardam relação de oposição entre si. Tais pontos de vista não se contrapõem; na verdade, complementa-se e podem contribuir, em um mesmo estudo, para um melhor entendimento do fenômeno estudado. Uma pesquisa, por exemplo, pode revelar a preocupação em descrever e investigar um fenômeno, ao mesmo tempo em que o autor pode estar preocupado também em explicar tal fenômeno a partir de seus determinantes.

Bibliografia

Flick, U. (2004). “Uma introdução à Pesquisa Qualitativa”. Segunda edição. Porto Alegre: Bookman.

Mays, N. & Pope, C. (1995). “Rigour and qualitative research”. BMJ.

Neves, J. L. (1996) “Pesquisa qualitativa: características, usos e possibilidades”. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 1, n. 3.
Glazier, J.D. & Powell, R.R. (1992). “Qualitative research in information management”. Englewood, CO: Libraries Unlimited.

Kaplan, B. & Duchon, D. (1988). “Combining qualitative and quantitative methods in information systems research: a case study”. MIS Quarterly, v. 12, n. 4.

O processo de formulação de hipóteses na pesquisa qualitativa

Evilásio Vilar

Introdução

Numa pesquisa qualitativa, hipóteses são previsões específicas sobre a natureza e a direção do relacionamento entre duas variáveis. Essas hipóteses são testadas e mensuradas pelos métodos propostos para a pesquisa. Elas são possíveis respostas plausíveis e provisórias ao problema da pesquisa e orientam a busca de outras informações.
Para Lakatos e Marconi (1991, p.104) a principal resposta ao problema proposto é denominada de hipótese básica e esta pode ser complementada por outras denominadas de hipóteses secundárias, que significam outras possibilidades de resposta para o problema. Esses autores também sugerem que normalmente não mais do que três hipóteses primárias devem ser propostas para um estudo de pesquisa qualitativa.
As variáveis envolvidas na pesquisa, por sua vez, são características observáveis do fenômeno a ser estudado e existem em todos os tipos de pesquisa. No entanto, enquanto nas pesquisas quantitativas elas são medidas, nas qualitativas elas são descritas ou explicadas (TRIVIÑOS, 1987).
Nas hipóteses não se busca estabelecer unicamente uma simples conexão causal (se A, então B), mas a probabilidade de haver uma relação entre as variáveis estabelecidas (A e B), relação essa que pode ser de dependência, de associação e até mesmo, de uma simples causalidade.
“É preciso não confundir hipótese com pressuposto, com evidência prévia. Hipótese é o que se pretende demonstrar e não o que já se tem demonstrado evidente, desde o ponto de partida. [...] nesses casos não há mais nada a demonstrar, e não se chegará a nenhuma conquista e o conhecimento não avança” (SEVERINO, 2000, p. 161).
Tal como o problema, a formulação de hipóteses prioriza a clareza e a distinção. Elas não são perguntas, mas sim afirmações. Tem-se como objetivo da pesquisa confirmar ou refutar essa(s) hipótese(s) levantada(s).

O processo de formulação de hipóteses

O processo de formulação de hipóteses é de natureza criativa e requer experiência na área. Geralmente, com base em análises do conhecimento disponível, o pesquisador acaba “apostando” naquilo que pode surgir como resultado de sua pesquisa. Uma vez formulado o problema, é proposta uma resposta suposta, provável e provisória (hipótese), que seria o que ele acha plausível como solução do problema. (Silva & Menezes, 2001, disponível em http://projetos.inf.ufsc.br/arquivos/Metodologia%20da%20Pesquisa%203a%20edicao.pdf)
Gil (1991) analisou a literatura referente à descoberta científica e concluiu que na formulação de hipóteses podem-se usar as seguintes fontes:
* observação;
* resultados de outras pesquisas;
* teorias;
*intuição.

Entretanto, para uma hipótese ser válida, são necessários algumas características ou critérios. Lakatos & Marconi (1991) listaram algumas dessas características. Elas estão descritas a seguir:
*consistência lógica: o enunciado das hipóteses não pode ter contradições e deve ter compatibilidade com o corpo de conhecimentos científicos;
*verificabilidade: devem ser passíveis de verificação;
*simplicidade: devem ser parcimoniosas evitando enunciados complexos;
*relevância: devem ter poder preditivo e/ou explicativo;
*apoio teórico:
devem ser baseadas em teoria para ter maior probabilidade de apresentar genuína contribuição ao conhecimento científico;
*especificidade: devem indicar as operações e previsões a que elas devem ser expostas;
plausibilidade e clareza: devem propor algo admissível e que o enunciado possibilite o seu entendimento;
*profundidade, fertilidade e originalidade: devem especificar os mecanismos aos quais obedecem para alcançar níveis mais profundos da realidade, favorecer o maior número de deduções e expressar uma solução nova para o problema.

Diferenças do processo entre a pesquisa quantitativa e a qualitativa

Métodos de pesquisa quantitativa desenvolvem objetivos de pesquisa a partir da teoria e os testam. A questão de pesquisa apresenta uma questão específica sobre o relacionamento entre as variáveis, e uma hipótese pode ser preparada para predizer o resultado. Por exemplo:

* Tópico de pesquisa: -> Atividade física e doenças cardiovasculares
* Problema de pesquisa:-> Existe uma ligação entre a falta de atividade física e a hipertensão?
*Questão de pesquisa: -> Trinta minutos de atividade moderada diária irá reduzir a hipertensão em trabalhadores?
*Hipótese:->Trinta minutos de atividade moderada diária executada pelos trabalhadores irá reduzir a pressão sanguínea média de sístole de 10mm de mercúrio.

Já em métodos qualitativos, a formulação de questões de pesquisa é um elemento central da pesquisa, já que ela esclarece suposições no framework e prioriza aspectos sobre os quais o pesquisador deseja saber. Em alguns casos, a pesquisa qualitativa pode preceder o desenvolvimento do framework conceitual e em outros casos pode seguir ele (Sarantakos, S. (1998) Social Research. pp. 119-120). Questões de pesquisa qualitativa tendem a ser abertas e descritivas e podem desenrolar-se ao longo do projeto, ao contrário de questões de pesquisa quantitativa, que devem permanecer fixas. Na pesquisa qualitativa, uma questão geral aberta pode ser seguida por um número de sub-questões. Por exemplo:

Tópico de pesquisa: * Unidade de display visual
Problema de pesquisa: * Unidades de display visual afetam a saúde dos usuários?
Questão de pesquisa: * Como aspectos psico-sociais do trabalho com displays são relacionados ao stress do trabalho e quais suas conseqüências para a saúde física e mental?
Sub-questões: * O que são “aspectos psico-sociais” do trabalho e como eles são detectados e determinados?
* O que é o “stress do trabalho” e como isso é detectado e determinado?
* O que é entendido por “saúde física e mental” e como isto é detectado e determinado?

*Exemplo retirado de Piller, N., Crotty, M., Weller, D., and Coveney, J (1999) Research in Primary Health Care: Theory and Practice. pp. 13-16 Flinders University

Pontos em comum entre as posturas teóricas de pesquisa qualitativa: Estruturalismo, Etnometodologia e interacionismo simbólico.

Paulo Roberto

A pesquisa qualitativa possui “várias abordagens de pesquisa que diferem em suas suposições teóricas, no modo como compreendem seu objeto e em seu foco metodológico” [1]. Existem três posturas básicas na pesquisa qualitativa: interacionismo simbólico, etnometodologia e estruturalismo.

O interacionismo simbólico foca no estudo dos significados subjetivos que os próprios indivíduos atribuem para as atividades que praticam e para os ambientes em que vivem. “O interacionismo simbólico ancora-se numa concepção teórica que considera que os objetos sociais são construídos e reconstruídos pelos atores interminavelmente” [2].

Procurando superar as limitações do interacionismo e seu interesse pelos pontos de vista dos sujeitos, surge a etnometodologia que procurar lidar com a questão de como as pessoas produzem a realidade social. “A etnometodologia busca abordar as atividades práticas, as circunstâncias práticas e o raciocínio sociológico prático desenvolvido pelos atores no curso de suas atividades cotidianas, sejam estas atividades ordinárias ou extraordinárias, partindo de um raciocínio profissional ou não. Considera que a realidade social é construída na prática do dia-a-dia pelos atores sociais em interação; não é um dado pré-existente” [2].

“O Estruturalismo procura explorar as inter-relações (as "estruturas") através das quais o significado é produzido dentro de uma cultura” [3]. “O Estruturalismo analisa sistemas em grande escala examinando as relações e as funções dos elementos que constituem tais sistemas, que são inúmeros, variando das línguas humanas e das práticas culturais aos contos folclóricos e aos textos literários” [4].

Apesar de existirem essas três posturas teóricas na pesquisa qualitativa, existem alguns aspectos comuns entre essas três abordagens:

Verstehen como princípio epistemológico: Verstehen (Compreensão), também conhecido como sociologia interpretativa, tenta entender a opinião do sujeito, as conversas, discurso, processo de trabalho ou regras culturas através do interior do sujeito. “Relata como os sujeitos dão significado ao mundo social ao redor deles” [5]. Todas as três posturas teóricas utilizam-se desta abordagem, diferindo apenas na forma de expressar metodologicamente essa compreensão.

A reconstrução de casos como ponto de partida: Outro aspecto em comum entre as três posturas teóricas, é que antes de elaborar enunciados gerais ou enunciados comparativos, é primeiro analisado o caso único. O que difere entre as posturas teóricas é exatamente o que seria este “caso único”. “O que em cada caso é entendido como “caso” – um indivíduo e seu ponto de vista, uma interação delimitada em local e tempo, ou um contexto específico social ou cultural no qual um evento se desdobra – depende da postura teórica utilizada para o estudo do material”. [6].

A construção da realidade como base: Todos os casos únicos (mostrados no tópico anterior) contribuem para a construção da realidade – os sujeitos contribuem para a construção da realidade com suas opiniões sobre determinado fenômeno, assim como as conversas e discursos. “Portanto, a realidade estudada pela pesquisa qualitativa não é uma realidade determinada, mas é construída por diferentes atores” [7]. Em todas as posturas teóricas existe um processo de definição do ator para que melhor seja a compreensão sobre sua atuação no ambiente, as abordagens teóricas diferem entre si, exatamente na questão de decidir qual é o ator crucial para a construção mais fidedigna da realidade.

O texto como material empírico: O texto é a base no processo de reconstrução de casos. Todas as posturas teóricas utilizam textos bem detalhados para a reconstrução e interpretação de casos. As posturas teóricas diferem na categorização desses textos.

Referências:

[1] Flick, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. 2ª edição. Pág.: 33.
[2] http://www.emtese.ufsc.br/h_Adalto.pdf
[3] http://pt.wikipedia.org/wiki/Estruturalismo
[4] http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2002/07/05/004.htm
[5] http://en.wikipedia.org/wiki/Verstehen
[6] Flick, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. 2ª edição. Pág.: 42.
[7] Flick, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. 2ª edição. Pág.: 43.

Amostragem Teórica

Gilberto Junior

Amostragem teórica é um termo criado por Barney Glaser e Anselm Strauss em 1967 no contexto da pesquisa social para descrever o processo de escolher novos campos de pesquisa ou novos casos de pesquisa para comparar com algum outro que já tenha sido estudados. Esta é uma das ferramentas da Pesquisa qualitativa.

O objetivo da amostragem teórica não é o mesmo da amostragem probabilística; o objetivo do pesquisador não é uma captação representativa de todas as possíveis variações, mas para obter um entendimento mais profundo dos casos analisados e para facilitar o desenvolvimento de “frames” analíticos e conceitos usados em sua pesquisa.

Diferentemente do que ocorre em uma amostragem estatística, onde se procura uma amostra aleatória que seja representativa da população, na amostragem teórica o critério básico para seleção de unidades de estudo é sua relevância teórica, ou seja, a sua contribuição para o desenvolvimento do assunto.

Na amostragem teórica, as decisões relativas à amostragem podem partir de qualquer um dos doisa níveis: podem ser tomadas no nível dos grupos a serem comparados ou podem concentrar-se diretamente em pessoas específicas. Em ambos os casos, a amostragem de indivíduos, grupos ou campos concretos não se baseia nos critérios e nas técnicas usuais de amostragem estatística. A representatividade de uma amostra não é garantida nem pela amostragem aleatória, nem pela estratificação. Em vez disso, indivíduos grupos, etc., são selecionados de acordo com seu nível (esperado) de novos insights para a teoria em desenvolvimentos em relação à situação da elaboração da teoria até o momento. As decisões relativas à amostragem visam àquele material que prometa os maiores insights, observados à luz do material já utilizado e do conhecimento extraído. A questão principal para a seleção de dados é: “Quais grupos ou subgrupos serão os próximos na coleta de dados? E com que finalidade teórica? (...) Há infinitas possibilidades de comparações múltiplas, por isso os grupos devem ser escolhidos de acordo com critérios teóricos” (Garfinkel, H – Pág. 47).

Um exemplo da aplicação dessa forma de amostragem é encontrado no estudo de Glaser e Strausssobre a consciência em relação à morte em hospitais. Nesse estudo, os autores fizeram observações participantes em diferentes hospitais e instituições com o intuito de desenvolver uma teoria sobre a organização social da morte em um hospital.

Uma segunda questão, tão crucial quanto a primeira, é como decidir quando interromper a integração de casos adicionais. Glauser e Strauss sugerem o critério da “saturação teórica” (de uma categoria, etc): “O critério para o julgamento de quando interromper a amostragem de diferentes grupos pertinentes a uma categoria é a saturação teórica da categoria. Saturação, significa que não está sendo encontrado nenhum dado adicional através do qual o sociólogo possa desenvolver propriedades da categoria”. A amostragem e a integração de mais material são encerradas quando a “saturação teórica” de uma categoria ou grupo de casos for atingida, ou seja, quando não houver mais o surgimento de nada novo.
Referências

· http://en.wikipedia.org/wiki/Theoretical_sampling
· http://gtm.vlsm.org/gtm-23.en.html
· Flick, Uwe – Introdução à Pesquisa Qualitativa. 2ºEd. Pag. 80

Entrevista Semipadronizada

Fábio Caparica Luna

Como um tipo de entrevista semi-estruturada, a entrevista semipadronizada parte da premissa de que os sujeitos entrevistados expressam seus pontos de vista mais facilmente em situações onde exista confiança, além de uma boa abertura e de uma sensível flexibilidade na interação com o entrevistador. O que se busca numa entrevista semipadronizada é a reconstrução dos conteúdos da teoria subjetiva (1) particular a cada sujeito. Para tal, é imprescindível trabalhar a colaboração entre entrevistador e entrevistado.
A aplicação desta técnica consiste basicamente de dois momentos distintos de contato entre o entrevistador e o entrevistado:

a) Num primeiro momento, numa entrevista são abordados diversos aspectos de um determinado tópico. Para tal, três tipos de questionamentos são empregados:
1. Questões abertas
Onde são introduzidos inicialmente os tópicos que se desejam obter detalhamentos. Espera-se que os entrevistados consigam expressar nas respostas o conhecimento que eles já possuem a mão.
2. Questões controladas pela teoria e direcionadas para as hipóteses
Baseadas na fundamentação teórica adotada pelo pesquisador sobre um tópico, estas questões buscam explicitar o conhecimento implícito do entrevistado a respeito do tópico. Recomenda-se que estas questões sejam apresentadas ao entrevistado como proposições que ele possa adotar ou recusar.
3. Questões confrontativas
Buscam detalhar criticamente as teorias reveladas no discurso do entrevistado até este momento.

Após este primeiro momento, e num período não superior a duas semanas, são feitas as transcrições da entrevista e uma rápida análise de seu conteúdo.

b) Em um segundo momento, a Técnica da Disposição da Estrutura (TDE) é aplicada. Nesta técnica, os conceitos oriundos do primeiro encontro com o entrevistado são apresentados em pequenos cartões com dois objetivos:
1. Avaliar/Validar os conteúdos
Onde se solicita ao entrevistado que ele avalie se os conceitos que ele apresentou no primeiro momento estão corretamente representados nos cartões. Caso não estejam, o entrevistado tem a liberdade de reformular, substituir ou eliminar o conteúdo dos cartões pelos que ele julgar mais apropriados.
2. Estruturar os conceitos aplicando as regras da TDE.
O entrevistado é apresentado à TDE, para familiarizá-lo com o seu conceito e com as suas regras de aplicação. Após o entrevistado estruturar a representação gráfica da sua teoria subjetiva, é feita uma comparação entre as representações gráficas do entrevistado e a que o entrevistador elaborou no intervalo entre os dois momentos. Esta comparação tem por objetivo fazer com que o entrevistado confronte os pontos de vista e reflita novamente sobre suas opiniões.

Em ambos os momentos do método, há dificuldade em se definir o grau de clareza do entrevistador ao explicar os procedimentos e seus objetivos para o entrevistado bem como a dificuldade de gerenciar um possível stress resultante das questões confrontativas. Habitualmente, sugere-se deixar claro que a correta aplicação da TDE e de suas regras não são uma avaliação do desempenho do entrevistado na execução de uma tarefa.
Esta metodologia permite que o pesquisador trabalhe mais próximo de suas próprias inferências sobre o que se obtém dos entrevistados. Baseando-se num diálogo entre entrevistado e entrevistador, as posturas de ambos convergem em torno de um movimento de colaboração na busca pelo melhor entendimento entre estes. A utilização da Técnica da Disposição da Estrutura (TDE), permite que as várias formas de questionamento utilizadas sejam estruturadas de uma melhor forma, buscando tornar o conhecimento ali registrado, mais fácil de ser interpretado.
Na sua aplicação, existem alguns fatores que devem ser observados, e que limitam sua eficiência caso não sejam bem ponderados. Adaptar a metodologia às questões da pesquisa em curso, bem como aos sujeitos participantes da pesquisa são exemplos destes cuidados que devem ser mantidos em foco.

Referências bibliográficas:
Flick, Uwe Uma introdução à pesquisa qualitativa / Uwe Flick;
trad. Sandra Netz. – 2.ed. – Porto Alegre : Bookman, 2004.

Hermenêutica @ Wikipedia (acessado em 28/06/06).
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermen%C3%AAutica

Pesquisa de mercado qualitativa @ Wikipedia (acessado em 28/06/06)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pesquisa_de_mercado_qualitativa

Entrevista @ Wikipedia (acessado em 28/06/06)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Entrevista

Entrevistas a Stakeholders @ Wikipedia (acessado em 28/06/06)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Entrevistas_a_Stakeholders

História da Pesquisa Qualitativa

Pedro Santos

História da Pesquisa Qualitativa

A pesquisa qualitativa pode ser considerada uma tentativa de aproximação dos métodos de pesquisa às ciências sociais. É o método de pesquisa que foca o modo como indivíduos e grupos de indivíduos vêem e entendem o mundo ou uma parte específica dele, e como constroem significado e conhecimento. Surgiu pela crescente diversificação dos modos de vida, sejam eles ambientais, biológicos, culturais e sociais. Estudiosos do comportamento humano, dizem que as teorias gerais nas ciências sociais terão seu fim em pouco tempo, dando lugar a teorias voltadas para grupos e classes bem específicos, que possuam um grande número de características em comum. Ela tem como principal motivação fenômenos complexos da vida social e que não estão sujeitos à quantificação e análise estatística.

Métodos da Pesquisa Qualitativa

Com a crescente evolução do comportamento humano e sua especialização ao redor do mundo, os métodos dedutivos de pesquisa (ou seja, o método de elaborar uma teoria e testá-la) se mostraram ineficientes e propensos ao fracasso. Hipóteses indutivas, onde se tem um conhecimento prévio sobre o assunto estudado, em que se captam dados para somente depois analisá-los e elaborar as teorias, se mostraram mais apropriados para pesquisas envolvendo pessoas.

Em contraste à pesquisa quantitativa, na qual os estudos são planejados para excluir ao máximo a influencia e interferência dos pesquisadores, a pesquisa qualitativa se caracteriza pela imersão do pesquisador no contexto a ser pesquisado, onde o pesquisador é um interpretador desse pedaço da realidade. Basicamente, a pesquisa qualitativa se utiliza de métodos de coleta de dados através de narrativas e a análise de seus conteúdos e tende a fugir às medidas e modelos matemáticos dando ênfase às deduções lógicas, a fim de decifrar dados ao lidar com seres humanos. Na pesquisa qualitativa, o procedimento metodológico mais importante para a pesquisa qualitativa passa a ser a interpretação, bem como a avaliação e apresentação.

Nas duas primeiras décadas do século XX, a pesquisa qualitativa foi guiada por duas grandes áreas. A primeira delas era a psicologia, com o alemão Wilhelm Wundt, que se utilizava de métodos de descrição e de verstehen, como processo psicológico para estudar o entendimento da personalidade, das situações e da comunicação. A segunda foi a sociologia norte-americana, com métodos biográficos, estudos de caso e métodos descritivos, que perdurariam como métodos principais ate a década de 40.

Alguns métodos e abordagem de pesquisa e de coleta de dados são: pesquisa-ação; grounded theory; estudos de casos; e estudos etnográficos.

O Desencantamento com as Ciências e o Reconhecimento das Pesquisas Qualitativas

A pesquisa qualitativa ganhou força com o chamando desencantamento do mundo com os resultados das pesquisas quantitativas. Isso pelo pequeno grau de aplicabilidade dos resultados que este último tipo de pesquisa obteve nas duas primeiras décadas do século XX.

Porém, o rigorismo para com as pesquisas sociais entre as décadas de 40 e 60, fez com que a pesquisa qualitativa voltasse a perder espaço para a pesquisa quantitativa. Somente com a volta das críticas mais fortes em cima dos processos quantitativos nas décadas de 60 e 70 fez com que a pesquisa qualitativa voltasse a ter relevância na sociologia norte-americana.

A pesquisa qualitativa começa a ser reconhecida e ganhar crédito fora das ciências sociais e antropológicas ao longo da década de 70. Passava então a ser predominante ou pelo menos ter participação significante em áreas como incapacidade (física e mental), educação, informação, comunicação, gestão e administração, além das áreas que já a aplicavam há mais tempo. Novos métodos de pesquisa qualitativa foram então desenvolvidos.

No começo da década de 70, começaram com mais vigor as discussões na Alemanha sobre etnometodologias, com o propósito de se fazer mais justiça com os objetivos de pesquisas sociais.

Marx Weber, na década de 80, realizou a pesquisa da utilização e demonstrou que as descobertas científicas são pouco transferidas para as práticas políticas e institucionais, chegando à conclusão que elas são relidas, reinterpretadas e criticadas de forma diferente, chegando a novas conclusões que inviabilizam sua aplicação imediata. Isso também pela pouca flexibilidade e por não levar em conta as diferenças sociais e culturais além dos problemas particulares do dia-a-dia, que impediriam a adoção geral e indiscriminada destes resultados.

Outro acontecimento importante na Alemanha para o impulso à pesquisa qualitativa dado na década de 80 foi o desenvolvimento dos métodos de entrevista narrativa e da hermenêutica objetiva, sendo estes independentes dos avanços feitos nos Estados Unidos, um marco para a maturidade da pesquisa qualitativa na Alemanha.

Fases da Pesquisa Qualitativa

Os estudiosos Denzin e Lincoln enxergam a pesquisa qualitativa em 7 fases, com características distintas, sendo elas:

· Período Tradicional, caracterizado pela etnografia de culturas estrangeiras;

· Fase Modernista, caracterizada pela tentativa de formalismo na pesquisa qualitativa;

· Gêneros Obscuros, caracterizados pelos paradigmas contrastantes;

· A Crise da Representação, que discutindo os processos de exposição do conhecimento descoberto;

· O Quinto momento, caracterizado pela mescla de teorias e narrativas;

· A Situação Atual, caracterizada pela composição pós-experimento;

· Futuro da Pesquisa Qualitativa.

Bibliografia

http://en.wikipedia.org/wiki/Qualitative_research

http://www.qualitativeresearch.uga.edu/QualPage/

http://www.geocities.com/claudiaad/qualitativa.pdf

Flick, Uwe. Uma introdução à Pesquisa Qualitativa.

Etnometodologias


Nancy Lyra

No final dos anos 60, Harold Garfinkel publicou na Califórnia o livro “Studies in Ethnomethodology” que viria a tornar-se o marco fundador da corrente de sociologia americana,” mundialmente conhecida como Etnometodologia.
Provocando uma reviravolta na sociologia tradicional, a publicação da obra esquentou debates acadêmicos ao redor do mundo, principalmente na Alemanha, Inglaterra e França, onde anos mais tarde se consolidou e fortaleceu.
Estudos recentes apontaram como causas desta reviravolta, a influência da fenomenologia exercida sobre Garfinkel através de Alfred Schütz e Eduard Husserl, e que íam de encontro à Sociologia Tradicional da época.
Devido às influências, os etnometodológos estavam cientes que mesmo na criação de uma nova teoria, estudos anteriores seriam de grande proveito na validade de suas propostas, e por esta razão uma característica importante da Etnometodologia é o caráter de complementaridade e de valorização do aporte já construído pela ciência.
Alguns conceitos merecem ser ilustrados:

CONCEITOS e CARACTERÍSTICAS
* Prática/ realização
A realidade social é construída na prática do dia-a-dia. O senso comum é recuperado pela sociologia.

* Indicialidade
O mundo social é constituído de ações interacionais que podem ser estabelecidas através de uma linguagem. As expressões são indiciais, ou seja, expressam em si mesmas um conjunto de idéias que superam seu significado literal (“eu”, “etc”...).

* Reflexividade
O quadro social é constituído e descrito por práticas, ou seja, ações práticas são desenvolvidas ao mesmo tempo em que ações racionais são executadas motivadas tanto por estímulos externos (ambiente) como internos (próprios de cada pessoa).

* Relatabilidade
As atividades práticas são compartilháveis. O mundo tonra-se visível a partir das ações que realizamos, que são, por sua vez, compreensíveis e transmissíveis.

* Noção de Membro
A construção social é compartilhada dentro dos grupos. E um membro deste grupo é aquele que incorpora os etnométodos e exibe naturalmente a competência social que agrega a este grupo.

Uma vez expostos os principais conceitos, percebe-se que a Etnometodologia baseia-se fortemente no estudo do raciocínio prático do quotidiano, buscando evidências para reconstruir uma explicação da realidade observada. É o tipo de sociologia compreensiva que preconiza a experiência direta para a compreensão da realidade.

Uma vez propagada e amplamente discutida, essa nova teoria sociológica cindiu-se em duas:
Sociólogos que mantinham vínculos com a sociologia tradicional
Analistas de conversação
Os primeiros se preocupavam mais com os campos da educação, justiça, organizações e ciência e os segundos com a reconstrução da linguagem mais coloquial, a fim de extrair sentido e dar continuidade.

No âmbito das pesquisas, pesquisadores adeptos à Etnometodologia divergem das práticas que tentam reduzir os dados brutos de uma pesquisa, como entrevistas transcritas, formulários e afins, uma vez que estas desconsideram momentos reais da fala e da argumentação e podem incluir algum tipo de influência entre entrevistador e entrevistado.

De uma maneira geral, pelo que foi exposto, percebe-se que a Etnometodologia busca compreender como os indivíduos vêem, descrevem e propõem em conjunto uma definição da situação, partindo da premissa de que o fato social é produto da contínua atividade dos homens, e possibilita assim que haja melhoras nas técnicas de pesquisa, uma vez que possibilita uma reflexão sobre o processo investigatório e o lugar do pesquisador dentro dele.

A entrevista etnográfica e semi-estruturada

Everton Marques


Atualmente, na área da pesquisa qualitativa, as entrevistas semi-estruturadas, têm atraído interesse dos estudiosos e de quem trabalha com pesquisas qualitativas, e vêm sendo amplamente utilizadas. Tal interesse está vinculado à expectativa de que é mais provável que o ponto de vista dos sujeitos entrevistados sejam expressos em uma situação de entrevista com um planejamento relativamente aberto do que em um questionário por exemplo.
A escolha da entrevista semi-estruturada para formalizar o início de uma coleta de dados deve-se a, de acordo com TriviÇos (1987), ser este um dos principais recursos que o investigador pode utiliza-se como técnica de coleta de informação:
"Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar da elaboração do conteúdo da pesquisa". (publicação de artigo 1)
A entrevista semi-estruturada é caracterizada pela "...formulação da maioria das perguntas previstas com antecedência e sua localização é provisoriamente determinada."(Colognese e Mélo, 1998). Nela, o entrevistador tem uma participação ativa, apesar de observar um roteiro, ele pode fazer perguntas adicionais para esclarecer questões para melhor compreender o contexto.
(publicação de artigo 2)
A entrevista semi-estruturada difere da entrevista estruturada por não ser inteiramente aberta, e não ser conduzida por muitas questões pré-estabelecidas. Baseia-se apenas em uma ou poucas questões/guias, quase sempre abertas. Nem todas as perguntas elaboradas são utilizadas. Durante a realização da entrevista pode-se introduzir outras questões que surgem de acordo com o que acontece no processo em relação às informações que se deseja obter.
(publicação de artigo 3)
Os pontos eventualmente considerados fortes da entrevista semi-estruturada são: Otimização do tempo disponível, tratamento mais sistemático dos dados, permite selecionar temáticas para aprofundamento, permite introduzir novas questões. Como ponto fraco podemos citar: requer uma boa preparação por parte do entrevistador. (apresentação 1); Foto: (foto 1)


É possível distinguir diversos tipos de entrevistas semi-estruturadas, dos quais os principais serão citados abaixo:
Ø Entrevista Focal
Ø Entrevista semipadronizada
Ø Entrevista centralizada no problema
Ø Entrevista com especialistas
Ø Entrevista etnográfica


A entrevista etnográfica será vista de uma maneira mais ampla abaixo, pois os outros tipos de entrevistas serão explicados eventualmente em outras monografias.
Segundo Trivinos, a entrevista etnográfica é, por excelência, a entrevista semi-estruturada, por possibilitar a obtenção de mais informações, ao longo da entrevista, acerca do tema em estudo.
"É melhor pensar nas entrevistas etnográficas como uma série de conversas cordiais nas quais o pesquisador introduz novos elementos lentamente para auxilia informantes a responderem como informantes. O uso exclusivo desses novos elementos etnográficos ou a sua introdução muito rápida farão com que as entrevistas assemelhem-se a um interrogatório formal. Desaparecerá a harmonia, e os informantes podem acabar suspendendo sua cooperação.” (Spradley 1979).
De acordo com Spradley (1979), as entrevistas etnográficas envolvem os seguintes elementos que as distinguem dessas “conversas cordiais”:
· Uma solicitação específica para refrear a entrevista;
· Explicações etnográficas, nas quais o entrevistador explica o projeto ou a anotação de certos enunciados; estas são completadas por explicações na linguagem cotidiana, explicações de entrevistas e explicações para certas questões, introduzindo a maneira de perguntar explicitamente;
· Questões etnográficas, ou seja, questões descritivas (ao responde-las, deve ficar demonstrado como os informantes organizam seu conhecimento a respeito do assunto)questões estruturais e questões de contraste (elas devem fornecer informações sobre as dimensões de significado utilizadas pelos informantes para diferenciar objetos e eventos em seu mundo)
O método de entrevista etnográfica é essencialmente empregado em combinação com a pesquisa de campo e as estratégias observacionais.

EL Guindi da Ethnographer Fadwa que entrevista Hoksha, artesão mestre, no Egipto rural, durante o filme de GHURBAL, película de 16mm, 1995, no ofício de fazer peneira (foto 2).

terça-feira, agosto 15, 2006

A entrevista centralizada no problema e principais aspectos

Edson Guedes
A entrevista centralizada no problema e principais aspectos

A entrevista centralizada no problema é um tipo de entrevista semi-estruturada onde, através da utilização de ferramentas e estratégias apropriadas (discutidas neste texto), torna-se possível levantar dados biográficos sobre um determinado problema.

Para tanto, esta apresenta três características principais: foco no problema (pesquisador se orienta em um problema social relevante), os métodos são desenvolvidos ou modificados com relação a um objeto de pesquisa e, por fim, a orientação do processo no processo de pesquisa e na compreensão do objeto de pesquisa.

Na concepção de Witzel, a entrevista qualitativa compreende um pequeno questionário precedente à entrevista, o guia da entrevista, o gravador e o pós-escrito.


O questionário precedente é utilizado, em geral, para coletar dados demográficos, o que permite economizar tempo durante a entrevista e reduz a possibilidade de perda de foco com questões não-relacionadas à questão central da entrevista. O guia, em particular, é a parte crucial da metodologia, juntamente com a conversa em si. O guia é uma espécie de roteiro bastante flexível para evitar que a entrevista fuja aos seus propósitos, segundo Witzel, “no caso de uma conversa estagnante ou de um tópico improdutivo”. O gravador permite o registro autêntico e preciso da entrevista, podendo ser imediatamente transcrita. Desta forma, o entrevistador pode se concentrar mais na discussão e observação (de expressões não-verbais, por exemplo) e se preocupar menos com o registro dos dados. Os pós-escritos são escritos logo após o final da entrevista para complementar a gravação. Ele envolve um esboço de tópicos discutidos, comentários de situações e aspectos não-verbais registrados pelo entrevistador durante a entrevista.

Estratégias comunicativas

A entrevista centralizada no problema possui quatro estratégias comunicativas principais – a entrada conversacional, as induções geral e específica e as questões ad hoc.

A entrada conversacional visa focar a discussão no problema em estudo. A questão é tão amplamente formulada que esta estratégia funciona como uma página em branco que é preenchida e estruturada pelo entrevistado com suas próprias palavras. Como exemplo, imagine que a questão poderia ser direcionada da seguinte forma: “Você quer ser um empresário bem-sucedido. O que você tem que fazer para conseguir isto? Como isso poderia acontecer?”. A última questão motiva o entrevistado a atuar de uma forma diferente da esperada nas entrevistas tradicionais.

Após a entrada conversacional, o entrevistador insere aspectos temáticos à medida em que eles são comentados nas respostas à questão introdutória. Assim, o entrevistador pode fazer perguntas que permitam delinear a história aos poucos, ampliando-a nas respostas do entrevistado, evitando fugir do foco. Ao mesmo tempo, o questionamento repetitivo de determinados tópicos mostra o interesse no detalhamento do mesmo. Exemplos concretos de experiências vivenciadas estimulam a memória do entrevistado, esclarecendo idéias abstratas e termos obscuros e ajuda a construir conexões concretas entre fatos passados.

Questões ad hoc são utilizadas quando certos tópicos não são abordados pelo entrevistado, mas são necessários para assegurar a validação da entrevista. Estas são mencionadas através de palavras-chave no guia ou podem também ser na forma de questões padronizadas e serem perguntadas ao final da entrevista para evitar que a entrevista se torne um jogo de perguntas e respostas na parte central da mesma. Por exemplo: “O que você gostaria de conseguir até os 30 anos?”.

Contribuição para a discussão metodológica geral

Witzel defende a utilização de um pequeno questionário junto à entrevista (questionário precedente, visto acima). Este possibilita que o pesquisador levante dados menos relevantes do que os tópicos da própria entrevista (por exemplo, dados demográficos) antes da entrevista real. Assim, o número de questões na entrevista é reduzido e o tempo pode ser melhor aproveitado. Neste ponto, Flick sugere a aplicação deste questionário ao final, “a fim de impedir que sua estrutura de perguntas e respostas se imponha sobre o diálogo na entrevista”.

Flick sugere ainda a aplicação do pós-escrito da entrevista centralizada no problema para outros tipos de entrevista. Ele acredita que essas informações podem ser úteis para a interpretação posterior dos enunciados da entrevista, “podendo permitir a comparação de diferentes situações de entrevista”.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Dados Verbais na pesquisa qualitativa

Rodrigo Coutinho

A linguagem utilizada pelas pessoas, tanto para falar, quanto para escrever se transforma em dados verbais de uma pesquisa qualitativa, quando essa linguagem é transposta da atividade na qual ela funciona originalmente, para a atividade na qual ela será analisada. Essa mudança de ponto de vista faz uso dos processos de entrevista, transcrição, seleção de materiais, etc, os quais representam o esforço do pesquisador em formatar os dados coletados.

Os diferentes métodos para coleta de dados verbais apresentam diferentes metas em relação a abordagens como estruturação e abertura. Dessa forma, a escolha do método, a ser usado em uma dada pesquisa, deve levar em consideração antes de tudo o objetivo dessa pesquisa. Abaixo é apresentado um resumo das principais características de alguns métodos de coleta de dados verbais.

O método de entrevista focal é um método de entrevista semi-estruturada que consiste primeiramente na apresentação de determinado foco (possivelmente uma mídia) ao entrevistado. Posteriormente, o pesquisador, sendo auxiliado por um guia de entrevista, deve analisar o impacto do material apresentado sobre o entrevistado.

Alguns dos critérios dessa entrevista, e que devem ser levados em consideração na construção do guia de entrevista, são: o não-direcionamento, que é alcançado através do uso de questões não-estruturadas, ou semi-estruturadas; a especificidade, que é a tentativa de fazer com que o entrevistado recorde de algo específico, através do uso de materiais e questões relacionadas; o espectro, o qual representa o tratamento de todos os aspectos relevantes à questão de pesquisa; e a profundidade, que se refere à obtenção, por parte do pesquisador, de comentários do entrevistado em relação ao sentimento dele sobre o material apresentado.

Esse tipo de entrevista, contudo, apresenta alguns problemas quanto ao cumprimento dos seus objetivos, que não podem ser combinados em determinadas situações e só poderão ser avaliados no decorrer da entrevista. Sendo assim, a competência do pesquisador em cada situação passa a ser um fator extremamente importante para que o sucesso na aplicação do método seja alcançado. Além disso, esse método quase nunca é utilizado em sua forma pura e a suposição quanto ao conhecimento objetivo de um dado caso é incerta.

Outro método de pesquisa interessante, e que apresenta um maior grau de abertura em relação às entrevistas semi-estruturadas é a entrevista narrativa. Essa entrevista é aplicada principalmente no contexto da pesquisa biográfica.

O fluxo desse método consiste na definição de uma situação inicial, ou ”questão gerativa”, que está relacionada ao assunto em estudo e tem por objetivo estimular o entrevistado a relatar determinado conto em sua estrutura natural. Essa fase é seguida por uma fase de investigações da narrativa, que é quando ocorre a complementação de fragmentos do conto não detalhados. Por último, chega-se a uma “fase de equilíbrio”, na qual o pesquisador realiza perguntas, com o objetivo de trazer os dados apresentados para um nível comum de entendimento.

Ao se aplicar o método de entrevista narrativa, deve haver uma certificação de que a questão narrativa proposta está claramente formulada e específica o bastante para que a narrativa esteja de acordo com o tema de pesquisa abordado. O quadro 1 apresenta as fases desta técnica.

Quadro 1: Fases da Entrevista Narrativa.

Um aspecto bastante relevante dessa técnica e que força a narrativa principal a lidar com versões mais ricas de uma dada experiência é que o entrevistado fica preso aos Zugzwangs (“caminhos forçados”). Como resultado, a narrativa produz detalhes realmente necessários à compreensão da história.

Essa técnica, porém, também apresenta alguns problemas. Por exemplo, nem todas as pessoas são capazes de realizar narrativas sobre suas vidas. Nesse conjunto encontramos as pessoas tímidas, as pouco comunicativas, as mais reservadas. Outro aspecto problemático é que se reduz o objeto de estudo a algo que pode ser narrado e se considera uma suposta analogia entre a experiência real do indivíduo entrevistado e a sua narrativa.

Por outro lado, se a finalidade da pesquisa requerer abordagens em grupo, um método também interessante é o de grupos de foco, ou focus group. Esse método tem como alvo um pequeno grupo selecionado a partir de uma população maior, o qual é perguntado em uma discussão aberta, pelas suas opiniões sobre determinados assuntos. Outras definições para grupos de foco podem ser encontradas aqui.

O resumo dos conteúdos das discussões, codificações e análises de conteúdo são alguns dos procedimentos sugeridos para a análise dos dados coletados utilizando o focus group.

Assim como os outros métodos citados acima, esse também apresenta alguns problemas. São esses problemas relativos à documentação dos dados, identificação individual de locutores e a distinção dos questionamentos dos diversos entrevistados em paralelo.

Como podemos ver a diversidade de métodos para coleta de dados verbais é grande e não existe uma maneira ideal de selecioná-los. Isso acontece, pois um aspecto importante da pesquisa qualitativa é a apropriabilidade de um dado método, e essa deve ser avaliada em relação ao assunto, a questão da pesquisa, e aos sujeitos que se pretende estudar, além dos próprios entrevistadores.

A Mimese na Relação Entre a Biografia e a Narrativa

Augusto Carvalho


Introdução

O filósofo-lógico inglês Bertrand Russell (1872-1970), ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1950, afirmou que três grandes desejos marcaram a sua vida: o desejo de ser amado, o desejo de aliviar o sofrimento humano e o desejo de saber. (http://plato.stanford.edu/entries/russell/)

Esse mesmo desejo de saber de Russell é compartilhado por vários estudiosos que se lançam em pesquisas em busca de respostas para os mais variados problemas.

De um grosso modo, as pesquisas são classificadas em dois tipos: quantitativas e qualitativas. A primeira é um método que utiliza técnicas estatísticas, com grande utilização na Física, enquanto o segundo é mais utilizado em ciências sociais, sem todo o apelo numérico e focado na identificação de problemas. O uso de uma não exclui a outra, ambas se completam para a realização de um trabalho bem feito. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pesquisa_de_mercado_qualitativa)

Nós últimos anos, várias empresas de TI, notando a importância de entender melhor seus usuários e objetivando a criação de novos produtos, têm utilizado a pesquisa qualitativa.

O estudioso Uwe Flick, discursando sobre a pesquisa qualitativa, afirmou que um dos aspectos básicos desse método é considerar o texto como material empírico. O texto, consoante esse autor, possui as seguintes finalidades: representar os dados inicias da pesquisa; servir de base para as interpretações; e ser um meio de comunicação das descobertas realizadas.

Um dos grandes questões que devem ser consideradas na utilização de textos é a questão do que acontece na tradução da realidade para o texto e no caminho de volta, do texto a realidade. Nesta questão, deve-se partir do princípio que uma vez feita à coleta de informações e escrito o texto, esse texto passa a ser a realidade. Imagine uma situação em que é feita uma atividade em grupo, na qual se coleta as impressões das pessoas. Dificilmente será possível consultar aquelas mesmas pessoas, precisando o estudioso se concentrar no material que possui e fazer suas interpretações.

Texto como concepção do mundo

Vários estudiosos vêm reiteradamente afirmando que é uma missão inglória tentar reduzir a relação do texto e a realidade há uma simples representação de fatos. Segundo Alfred Schütz, os fatos por só não existem, seu valor se deve à seleção e interpretações feitas pela nossa mente. Logicamente essas interpretações se devem a uma bagagem de conhecimento que as pessoas possuem. Conhecimento este do cotidiano, da ciência e da arte.

Figura 1 – Flick, Uwe – Introdução à Pesquisa Qualitativa. 2ºEd., p. 48.

A figura acima mostra bem o ciclo de elaboração de um texto dentro de uma pesquisa. Primeiramente temos os eventos que o pesquisador observa, sendo classificado como experiência, em seguida tem-se a construção do texto a partir das versões de mundo, fruto do conhecimento e finalmente a interpretação que se é feita do texto, atribuindo algum significado.

Mimese

Tentando melhorar o ciclo acima, os pesquisadores sociais utilizam-se de um conceito antigo advindo da Grécia Antiga chamada mimese bastante utilizado na Literatura. Aristóteles, em seu livro Poética, define mimese como sendo a imitação da vida interior dos homens, seus sentimentos, seu comportamento (http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=mimese&stype=k).

Gebauer diz que mimese poderia ser compreendida como a arte imitando a vida. (http://books.google.com/books?vid=ISBN0520084594&id=G23Q1YLscgcC&dq=mimesis:+Culture,+Art,+Society+-+Gebauer).

Mas, o que isso tem a ver com as pesquisas qualitativas? Em que situações isso seria interessante?

Vamos fazer um teste. Quando lemos uma história, criamos, através da descrição do autor, os locais onde as coisas se sucedem. Tentamos mergulhar na realidade vivida pelos personagens mesmo nunca tendo os visto. Logicamente, como foi visto no item Texto como concepção do mundo, cada um vai ter uma compreensão diferente, mas isso não impede a atividade.

Algumas narrativas biográficas podem ser comparadas a histórias. Porém, elas não são simples relatos, pois, por parte do narrador, ele precisa que o outro aprenda o que ele está transmitindo e por parte do ouvinte, ele precisa fazer um esforço interpretativo das mensagens escutadas idêntica a uma relação entre narrador e leitor. Caso parecido acontece em Informática quando um analista está conservando com o seu cliente sobre a especificação de requisitos de um sistema. Um relata as suas expectativas, os requisitos, e o outro tenta compreender o que é transmitido tentando escrever os casos de uso.

Com isso é possível perceber que há um esforço em transformar as informações recebidas em algum significado, as experiências passam a ter valor simbólico sendo estão textualizadas. Uma vez textualizadas é possível novamente interpreta-las, formando um ciclo entre experiência, construção e interpretação.